Anatomia do ligamento cruzado anterior
O ligamento cruzado anterior (LCA) tem como função ser um dos principais estabilizadores da articulação do joelho. Forma com o ligamento cruzado posterior o pilar central de ligamentos do joelho. Ambos os ligamentos cruzados contribuem, não só para a estabilidade antero-posterior, como também rotacional desta articulação. O ligamento cruzado anterior origina-se do côndilo femural e dirige-se distalmente para a espinha da tíbia. A anatomia do LCA revela que este é formado por dois feixes, um anteromedial e outro posterolateral, os quais ficam tensos em posições diferentes do joelho. O primeiro, o feixe anteromedial ocorre quando o joelho está em extensão e o segundo (posterolateral) quando o joelho está fletido.
Ruptura - Lesão do LCA A ruptura de ligamento cruzado anterior é uma lesão das mais frequentes no desportista. Esta lesão do ligamento cruzado anterior é muitas vezes apelidada de "rompimento do ligamento do joelho". Um individuo não atleta pode também “romper o ligamento” ao executar tarefas do quotidiano, como resultado de um mecanismo de torção e ligeira flexão do joelho. Atinge muito frequentemente as mulheres, devido a especificidades da sua anatomia do joelho, diferenças hormonais e de desenvolvimento muscular, nomeadamente dos isquiotibiais. Quando existe ruptura, esta pode ser total (ou completa) ou parcial. Ruptura parcial ou total do LCA Estamos perante uma ruptura parcial ligamento cruzado anterior quando apenas algumas fibras são lesadas, ficando as restantes integras. A rotura parcial de ligamento cruzado anterior pode frequentemente ser tratada sem recurso a cirurgia. Uma rotura parcial do ligamento pode, no entanto, evoluir para uma rotura total obrigando a uma mudança na orientação terapêutica. A ruptura total do ligamento cruzado anterior (ou ruptura completa) ocorre quando todas as fibras do LCA são lesadas, provocando instabilidade no joelho. Sintomas na ruptura do LCA Na ruptura do ligamento cruzado anterior, os sintomas são muito característicos. O atleta ao sofrer a rputura do ligamento cruzado anterior refere, geralmente, um estalido e dor aguda no joelho. Um derrame articular hemático instala-se, rapidamente, e o doente sente dificuldade em caminhar sem o apoio de muletas durante alguns dias. Passada a fase aguda, um dos sintomas principais da ruptura do LCA é a instabilidade, com sensação de que o “joelho falha”. O doente sente insegurança ao subir e descer escadas ou planos inclinados, assim como em praticar desportos.
Diagnóstico da ruptura do LCA
Na fase aguda, o exame clínico do joelho pode ser dificultado pela presença de dor e impossibilidade em fletir a articulação devido ao derrame.
O teste da gaveta é uma forma simples de, no exame físico, diagnosticar a lesão dos ligamentos cruzados. A gaveta é positiva quando existe uma translação anterior da tíbia superior a 6-8 mm. A rotura do ligamento cruzado motiva também uma instabilidade rotacional que é observada por manobras específicas (“pivot-shift”) que o médico ortopedista irá certamente aplicar no exame do joelho.
A comparação com o joelho contra-lateral poderá ajudar a reduzir as dúvidas no diagnóstico clínico.
A Ressonância Magnética (RM) do joelho é o exame de 1ª escolha no diagnóstico de lesões ligamentares, pois apresenta um grau de certeza superior a 95% na rotura do LCA.
Tratamento na ruptura do LCA
Na ruptura do ligamento cruzado anterior, o tratamento pode ser efetuado através de cirurgia (reconstrução do ligamento) ou fisioterapia.
No atleta jovem, com altas exigências físicas, a reconstrução do ligamento é mandatória. Nos restantes casos, a opção de fazer cirurgia ou tratar conservadoramente (com fisioterapia), deve ser discutida com o doente, ponderando a sua idade e nível de atividade desportiva, assim como as suas expectativas de recuperação.
A fisioterapia na ruptura do ligamento cruzado anterior está, por isso, indicada nos doentes menos ativos/sedentários ou com práticas desportivas com menor solicitação do joelho, como o ciclismo ou a corrida.
Veja, a seguir, em que consiste a fisioterapia na ruptura do ligamento cruzado anterior.
Fisioterapia no ligamento cruzado anterior A fisioterapia na ruptura do ligamento cruzado anterior é essencial para uma recuperação completa. Alguns doentes ficam assintomáticos (sem sintomas) após efetuarem fisioterapia, dispensando assim uma eventual intervenção cirúrgica. Veja, a seguir, em que consiste a cirurgia na ruptura do ligamento cruzado anterior. Cirurgia no ligamento cruzado anterior A cirurgia de ligamento cruzado anterior pode ser realizada em “cirurgia aberta” ou por artroscopia. Atualmente, a técnica de eleição é a artroscopia. A anestesia na cirurgia de LCA evoluiu de tal forma que esta pode ser realizada sem grande desconforto ou dor para o doente. A artroscopia permite ao médico especialista em joelho efetuar a reconstrução do ligamento cruzado anterior. Com o recurso a esta técnica mini-invasiva, a dor no pós operatório é reduzida, a reabilitação mais fácil e rápida, assim como melhora, significativamente, a aparência das cicatrizes comparativamente com as da cirurgia aberta.
As complicações na cirurgia ligamento cruzado anterior são pouco frequentes especialmente se o médico especialista do joelho adotar a técnica cirúrgica mais adaptada ao doente. A artroscopia de ligamento cruzado anterior pelos motivos atrás apresentados possui inúmeras vantagens quando comparada com a cirurgia aberta. O valor da cirurgia pode variar em função de diversos fatores. Apenas o médico ortopedista, especialista em joelho, poderá estimar o custo da cirurgia após avaliação em consulta. Técnicas de plastia do LCA Entende-se por plastia de ligamento cruzado anterior (ou ligamentoplastia) as técnicas cirúrgicas que permitem “reconstruir” o ligamento. São diversas as técnicas de plastia utilizadas na reconstrução do LCA, mas todas passam pela colheita de um enxerto de tendão que vai ser colocado através de túneis ósseos que atravessam a tíbia e o fémur, de forma a substituir o ligamento cruzado primitivo que rompeu. Habitualmente, os locais de colheita do auto-enxerto são o tendão patelar, os tendões isquiotibiais e o tendão quadricipital do próprio doente, mas é também possível a utilização de enxerto de banco (aloenxerto). A reconstrução com enxertos sintéticos apresenta ainda resultados pouco favoráveis. Prognóstico da rotura do LCA O prognóstico da lesão do ligamento cruzado anterior vai depender da forma como for tratada e das lesões associadas. A associação com rputuras do menisco e lesões da cartilagem vai influenciar negativamente o futuro do joelho, favorecendo a evolução para a artrose. Daí a necessidade de uma reconstrução ligamentar anatómica e, simultaneamente, um tratamento cuidadoso das restantes lesões nomeadamente através de sutura meniscal.
Recuperação no LCA O retorno aos índices físicos e de nível de atividade desportiva prévios à ruptura do cruzado anterior devem ser os objetivos da reabilitação (fisioterapia). Um esquema de reabilitação com protocolos adaptados a cada atleta ou doente são essenciais. Geralmente, a reabilitação inicia-se antes da cirurgia de forma a reduzir a dor, desinflamar, recuperar a amplitude articular do joelho e habituar o quadríceps e isquiotibiais aos exercícios a efetuar posteriormente. O treino proprioceptivo (treino de posição), para além do reforço muscular, são essenciais para reabilitar o joelho após a plastia do cruzado anterior. O tempo de recuperação após cirurgia ligamento cruzado anterior depende do protocolo de fisioterapia a adotar. Existem protocolos acelerados, adotados habitualmente em atletas de alta competição, que permitem iniciar o treino desportivo por volta dos 2 a 6 meses.
Outros protocolos, menos curtos para o indivíduo com menores exigências físicas. O tempo de recuperação e de retorno à competição desportiva são, habitualmente, não inferiores a 4 a 8 meses, em especial quando se tratam de esportes de contato.
Avanços no tratamento das lesões do LCA Avanços recentes no tratamento cirúrgico da ruptura do ligamento cruzado anterior baseiam-se em três vertentes:
Posicionamento mais anatômico dos túneis, de forma a mimetizar a função do ligamento cruzado primitivo;
Melhoria dos sistemas de fixação do enxerto com recurso a implantes reabsorvíveis e cada vez mais biocompatíveis (substitutos ósseos);
Utilização de fatores biológicos, como fatores de crescimento e células estaminais, de forma a facilitar a integração do enxerto na interface enxerto-osso.
A prevenção da lesão dos ligamentos cruzados Através de um estudo prévio, podem ser aplicados programas individualizados de reeducação muscular que permitem fazer um balanço correto dos grupos flexores e extensores do joelho de forma a, no futuro, proteger o joelho de roturas do ligamento cruzado anterior.
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